Imagino que o caro leitor, ao abrir a coluna e se deparar com esse título, deve estar pensando algo muito ruim, principalmente dentro do contexto mundial atual. Uma guerra nuclear, um desastre ambiental, o choque de algum asteroide, algo que realmente venha para acabar de vez com a humanidade... Você está quase certo! É quase tão trágico quanto, mas não sei se o suficiente para dar um fim à humanidade. Me refiro ao trânsito.
Sim, caríssimo leitor, a coluna de hoje abordará o trânsito nas cidades brasileiras, ou a própria organização urbana delas como um todo (além de, claro, fazer uma menção honrosa à nossa tão amada “TubaCity”). E por que falar disso? Porque eu noto, como uma pessoa que convive diariamente com o trânsito, por meio de transporte coletivo, que aparentemente, a maioria das cidades brasileiras apresentam problemas semelhantes no trânsito - cada uma dentro de sua realidade -. E o pior, esses problemas parecem ser oriundos de uma causa comum: a rodoviarização.
E o que significa esse termo? Podemos defini-lo como um excesso de valorização do transporte individual motorizado, como carros e motos, em detrimento do transporte coletivo, das bicicletas e de outros meios alternativos de locomoção, como andar a pé.
A grande questão a ser colocada é: até onde nossas cidades suportam esse modelo? É compreensível que o carro traz mais conforto, é mais rápido e mais seguro, de certa forma. Contudo, a maioria das pessoas acabam utilizando esse meio de transporte buscando seus benefícios individuais, sem sequer perceberem que o excesso de carros conduz a outros problemas coletivos.
O primeiro mais óbvio é o trânsito. Nenhuma cidade tem território infinito para continuar aumentando sua capacidade viária, asfaltando mais vias e construindo mais viadutos. Vai chegar o momento em que a quantidade de veículos será tamanha que se tornará praticamente impossível transitar pelas cidades; e não vai mais haver espaço para realizar obras buscando descongestioná-las, levando a um caos urbanístico. Esse cenário já pode ser observado em algumas cidades brasileiras, como São Paulo e Florianópolis.
O segundo ponto, que é gravíssimo, mas infelizmente, pouco lembrado, é a poluição. Um número muito grande de veículos nas vias joga uma quantidade enorme de poluentes na atmosfera, levando à má qualidade do ar e a proliferação de doenças respiratórias, ocasionando pressão também no sistema de saúde.
Essas condições fazem com que a priorização de carros e motos levem a um cenário parecido com o de uma Tragédia dos Comuns, pois ao priorizarem o seu conforto individual, as pessoas esquecem que vivem em sociedade, e as suas escolhas refletem em todos. Além disso, não há incentivos, pelo menos por parte de gestores públicos de cidades brasileiras, a meios alternativos de locomoção, como as bicicletas, através das ciclovias; caminhadas, através de adequação das calçadas; criação de espaços públicos, voltados ao pedestre; e por fim, o transporte coletivo, que em grande parte dos municípios é extremamente negligenciado. Essas medidas ajudariam a aliviar o trânsito, além de serem ambientalmente mais sustentáveis.
Ante o exposto, não posso deixar de comentar sobre nossa querida e amada Tubarão. Tubarão é uma cidade com mais ou menos 110 mil habitantes, que simplesmente tem um carro por pessoa. É isso mesmo que você leu, temos em torno de 100 mil carros por aqui, fora os que vêm de outros lugares e circulam diariamente.
Contudo, por ser uma cidade ainda pequena, temos uma vantagem que outras grandes metrópoles não possuem, que é a chance de reverter esse cenário, e impedir que daqui 15 anos ninguém mais consiga se mexer no trânsito. Maior valorização do ciclista e do pedestre e maiores investimentos para o transporte coletivo, são algumas ideias de pontapé inicial que precisam ser dadas. Agora, eu faço a seguinte pergunta às autoridades e para a nossa própria sociedade: que tipo de cidade queremos para o futuro?
Rádio Cidade Tubarão
Estudante de jornalismo aficionado em história e filosofia, temas que serão abordados nessa coluna.
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