Otávio deve ter, no máximo, 35 anos. Anda com uma mochila e uma meia-máscara de tecido. O cabelo, com alguns fios brancos bem na raiz, estava amarrado. Usava blusa amarela e sorria com os olhos, embora parecesse triste. Gostei tanto dele, que quase falei para minha mãe ir fazer as compras enquanto eu continuava conversando sobre como o Brasil carece de oportunidades para as pessoas. Ele estudou até a quarta série, mas sabe muito. Falamos sobre tecnologia, sobre uma menina de oito anos que, segundo ele, está estudando asteroides e até sobre ele ter vindo de Cuiabá e parado em Imbituba, onde está morando na rua.
"Tudo o que eu sei aprendi na internet. O Brasil é um país com muitas potências, mas não dá oportunidades para todos". Eu concordo contigo, Otávio. Se para pessoas que, mesmo com dificuldades, possuem uma casa e roupas sempre limpas, já é difícil conseguir emprego, imagina para quem, assim como ele, mora na rua. Quem me conhece sabe que eu sou dessas que paro, converso e gosto de saber a história de quem quer - e precisa - ser ouvido. Quem mais ganha, sem dúvida, sou eu.
Enquanto minha mãe pegava um sanduíche e uma maçã no carro para ele, eu recebi a seguinte pergunta: "Tu tem um coração assim, que se importa com as outras pessoas?". Esses encontros que a vida me proporciona são tão significativos e me fazem refletir tanto sobre o quê eu ando fazendo de bom para quem mais precisa. E eu nem digo coisas materiais, como comida ou dinheiro - o que, claro, são essenciais. Mas o quanto de tempo e escuta afetiva eu estou dedicando.
Otávio, obrigada por chegar no mercado junto comigo. Espero te encontrar novamente, com mais tempo e ainda mais carinho para te ouvir!
Rádio Cidade Tubarão
Repórter e produtora multimídia da Rádio Cidade Tubarão. Apresentadora do Podcast Mulheres da Cidade.
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