Quando o assunto são os times multicampeões do futebol recente, qual a primeira equipe que vem em sua mente? O Real Madrid, treinado por Zinedine Zidane, único tricampeão consecutivo da era moderna da Liga dos Campeões? Possivelmente o Barcelona, de Pep Guardiola e Lionel Messi, com a histórica marca de seis títulos em um ano? Ou até mesmo o Boca Juniors dos anos 2000, que empilhou taças na Libertadores, assombrou um continente e bateu de frente com grandes europeus no saudoso Intercontinental?
Poderíamos citar diversos exemplos de equipes que constituíram hegemonias em seus países e continentes, mas me chama atenção um fator: por que tão poucos times brasileiros seguem o mesmo caminho? O Santos de Pelé, o Flamengo de Zico e o São Paulo de Telê já constituem memórias distantes para o torcedor, e o Corinthians dos anos 2010, com seis títulos de primeiro escalão, passou por tantas reformulações e trocas de técnico que mal pode ser considerado um “mesmo ciclo” de conquistas, por assim dizer.
Então, vamos ao questionamento que traz o título desta coluna: os times vencedores têm “prazo de validade” no Brasil? O fim de semana que decidiu os campeões estaduais por todo o país traz a tese e a antítese para responder essa pergunta.
Começamos pelo Flamengo, derrotado pelo rival tricolor no Maracanã. O rubro-negro passou por dois dos seus anos mais vitoriosos em 2019 e 2020, mas, desde então, falha sucessivamente em retomar a identidade ofensiva e a mentalidade campeã daquela equipe. O primeiro ponto é resultado do envelhecimento de algumas peças, como Everton Ribeiro e Filipe Luís, e a falta de reposição certeira para outras, como Gerson, Pablo Mari e Rafinha.
O segundo problema não passa apenas pelo campo: a acomodação dentro do clube foi total. O comando do futebol, pelas mãos de Marcos Braz, que divide seu tempo como vereador do Rio de Janeiro, e de Rodolfo Landim (apelidado por alguns de Rainha da Inglaterra, por suas aparições esporádicas), ambos se sentaram sobre títulos conquistados e não sabem mais qual caminho trilhar. Dois anos depois das glórias, o rubro-negro tem um elenco envelhecido, que já acumula quatro vices em cinco meses e está em vias de derrubar o quarto treinador desde a saída do "Mister". O “prazo de validade” do elenco bicampeão brasileiro parece ter acabado, mesmo que os dirigentes reneguem o fato, e adiem a inevitável reformulação, necessária desde o fim de 2021. A hegemonia sonhada pelos rubro-negros ficou pelo caminho.
No estado vizinho, há um exemplo de quem vem empilhando títulos e não parece perder o foco. O Palmeiras, de Abel Ferreira, atual bicampeão continental, amassou o rival São Paulo e se sagrou Campeão Paulista de 2022. Após as críticas pela atuação fraca no meio de semana, o alviverde aplicou um sonoro 4 a 0, no que pode ser considerada uma das melhores apresentações desse elenco. Sabe aquela máxima do “é difícil chegar no topo, e mais difícil ainda se manter”? Uma atuação com tamanho ímpeto do atual campeão da Libertadores, em uma final de Estadual, pode ser o atestado de que a mentalidade de seguir lá em cima tomou conta do Palmeiras.
É de se bater palma para o trabalho de Abel Ferreira. Com uma das torcidas mais impacientes do Brasil e uma diretoria que não demonstra grandes ambições no mercado de transferências, o lusitano já é considerado por muitos o maior treinador da história da Academia, e duvido muito que queira parar por aí.
Chute cruzado
Coordenador de esportes da Rádio Cidade Tubarão, apresentador do programa diário Central do Esporte e dos semanais Grande Área Debate e Grande Área Entrevista, co-host e produtor do Cidade a Caminho da Copa, colunista do portal SC Todo Dia, apaixonado por futebol, política e maradoniano devoto.
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