Cada sujeito cria uma realidade dentro de si: categorias que se estendem para além dos preceitos mais genéricos condidos em livros. É um mundo para cada sujeito, com aspectos subjetivos únicos. Porém, muitos destes aspectos nos distanciam do tão desejado e completo funcionalismo psíquico.
Não é segredo que alguns tendem a trazer uma quantidade maior de subjetividade para suas vidas, e com subjetividade quero dizer: aspectos pessoais para situações coletivas, sentimentos que podem vir a toda com o contato, por exemplo, com objetos que podem despertar sentimentos diferentes em cada sujeito. Essa separação cria pequenos universos em cada um... Num viés mais cômico, é o próprio multiverso idealizado por Stan Lee em seus quadrinhos.
Logo, se a física que conhecemos se comporta de forma diferente em partes diferentes do universo ou nas suas frações, por que no universo que cada indivíduo vivencia normaliza-se uma certa metodologia genérica? Por óbvio, o mundo fora do sujeito o afeta, mas quem ressignifica os fenômenos é ele mesmo. Desse modo, um confronto direto - como em uma discussão raivosa - não afeta as bases das suas suposições, ou seja, pouco ou nada altera as convicções que o movem.
Digo isso pois, da mesma maneira que estudamos algo mais teórico ou empírico, seja como for construído esse conhecimento, não será de uma hora para outra que iremos nos desfazer daquilo que solidificamos em nossa psique. Da mesma forma que um acadêmico embasa um artigo científico, um sujeito com sua psique, construiu e embasou todos os seus medos e verdades. Ao mesmo tempo que constrói os fenômenos, também constrói as defesas do eu - por este motivo é comum pessoas agindo na defensiva.
Pensando de uma forma mais informal, acredito que os mecanismos mercadológicos também corroboram para essa forma defensiva de agir, pois existem fatos que colaboram para essa “defesa”, como a concorrência para uma vaga melhor no trabalho ou o risco de ser descredibilizado por visões de mundo diferentes.
Em um mundo pós-moderno e pouco coletivo, me parece cada vez mais difícil haver uma abertura para o reconhecimento de questões internas, que podem corroborar, também, para a pouca abertura a questões coletivas. Entendo que se fechar para o mundo é como se fechar para a vida e toda sua diversidade. Essa tendência piora quando há sintomas fisiológicos e eles são mascarados por medicamentos, os quais o acesso é cada vez mais facilitado - o que reforça a minha tese mercadológica. A funcionalidade de um sujeito nem sempre exclui a possibilidade de patologia.
Ainda, é importante ressaltar que ao mesmo tempo que o médico e o psicólogo precisam levar em conta o fator fenomenológico, o paciente também deve ser conscientizado sobre tal, pois isso acarreta o seu bem-estar.
É preciso compreender o sujeito como um ser completo, moldado também pelo seu contexto, história e fenômenos subjetivos. Devemos valorizar o que é sentido, porque nem tudo que acessamos é construído racionalmente, pois existem as experiencias subjetivas. Assim, é preciso adentrar, na medida do possível, mundo do outro para então compreendê-lo.
Além do Eu
Luiz Gustavo Pereira é compositor e escritor com dezenas de trabalhos lançados por bandas e sua produtora. É acadêmico de Psicologia e foi um dos fundadores da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Lasesp) e é membro da Liga Acadêmica de Psicanálise (Lepsic).
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