Até onde a positividade vai? Existe um limite para a positividade? De um tempo para cá, noto que nossa sociedade sofre com a positividade toxica, em que não pode haver tristeza ou qualquer emoção dita como negativa; do contrário, você será taxado como chato e provavelmente será excluído ou corrigido pelo seu meio. Há uma máxima do “temos que estar sempre felizes”, mesmo quando somos demitidos, porque “está se iniciando um novo ciclo” e qualquer asneira que vier depois desse tipo de frase que vá contribuir para a positividade tóxica.
Vivemos em redomas de segurança desde a pré-história; esses círculos têm maneiras psicológicas de se manter e de se regular, já que cada indivíduo exerce forças - mesmo sem querer - para que esse grupo se mantenha e se regule. Assim, desenvolvemos ferramentas de comportamentos para viver em grupos, para nos proteger de animais ou até mesmo de outros grupos. A positividade tóxica diz respeito a um comportamento em que as pessoas enfatizam excessivamente o aspecto positivo das situações, evitando ou negando completamente as emoções ditas como negativas. Essa atitude é geralmente motivada pelo medo de conflitos, pela necessidade de agradar aos outros ou pela pressão social para parecer sempre feliz e otimista.
A positividade é algo necessário, mas deve ser usada com equilibro, pois, a tristeza e a raiva são sentimentos primários e necessários que precisam ser expressos. Em uma ocasião de injustiça, a raiva entra em ação para que o indivíduo expresse suas emoções e aponte a justiça que é feita contra ele ou contra terceiros. É importante destacar que a supressão de raiva pode levar à tensão muscular, stress excessivo, dores de cabeça, baixa autoestima, dentre outros sintomas. No caso da tristeza os sintomas mais frequentes são a falta de autocuidado, dificuldade nos relacionamentos e muitos distúrbios psicológicos.
As pessoas que guardam essas emoções podem ter uma explosão emocional, e essas explosões acarretam um prejuízo muito maior na sua vida, como por exemplo explosões de raiva e depressão, criando prejuízos no corpo e na mente do sujeito. As pessoas que expressam suas emoções tendem a ter uma qualidade de vida superior e melhores relacionamentos. Ou seja, a longo prazo aqueles que não usam da positividade tóxica podem viver mais e melhor.
Algo que também é acarretado pela positividade toxica é o que Freud chamou de sublimação, em que as emoções são transferidas para algo mais socialmente aceito, como compras excessivas ou até mesmo abuso de álcool e outras substâncias. O sujeito pode estar experimentando uma emoção intensa ou desconfortável e ao invés de expressá-la ou lidar diretamente com essa emoção, toda essa energia psíquica é direcionada para um objeto de alívio temporário.
Na ânsia por ser positivo a pessoa pode se tornar conivente com fatos complexos - e até mesmo horríveis - que estão em sua volta, criando o efeito malévolo de manada. Os sujeitos podem fugir dos seus problemas e tornar-se alienados, se abstendo de atitudes para solucionar problemas do seu meio, talvez por pensarem estar poupando energia naquele momento, porém, estão sujeitos a pagarem muito mais caro ao longo prazo.
Obviamente ser negativo não é a solução, mas sim agir com equilibro e bom senso, buscando entender de onde vem essas emoções “negativas” e o que elas representam, entendendo os sinais psíquicos e físicos, para que possamos ser mais autênticos com os outros e com nós mesmos.
Além do Eu
Luiz Gustavo Pereira é compositor e escritor com dezenas de trabalhos lançados por bandas e sua produtora. É acadêmico de Psicologia e foi um dos fundadores da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Lasesp) e é membro da Liga Acadêmica de Psicanálise (Lepsic).
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