"Porque meu caráter foi forjado mais pela dor de ver outros festejando do que pela alegria das minhas comemorações". A frase (brilhante, diga-se), é de Rodrigo Barneschi, autor do livro "Forasteiros". Todos que gostam de futebol precisam, em algum momento da vida, frequentar a arquibancada. É assumir um protagonismo de um espaço que lhe pertence.
Estar em um estádio de futebol é saber que o objetivo é defender a instituição. A camisa e sua história. Não apenas os 11 homens que correm atrás da bola. Se o time é derrotado, sair antes do fim do jogo deveria ser proibido. É preciso encarar a derrota. Ficar de cabeça erguida em respeito à instituição. Aguentar as piadas. É por isso que Barneschi fala sobre as derrotas. Quem torce para um time do interior sabe como é isso.
Normalmente você vai perder mais do que ganhar. Vai chorar mais do que sorrir. Vai sentir mais raiva do que alegria. Vai ficar indignado, à noite, quando as luzes do estádio se apagam e o jogo precisa ser interrompido. Mas essa tristeza – e até aquela incômoda desorganização – fazem parte do processo de quem sabe que precisa acompanhar o clube até o fim.
É ele que organiza seu dia com o objetivo final sendo o jogo de futebol. É ele que sai correndo do trabalho, mesmo sabendo que vai chegar no estádio já com a partida rolando – e isso lhe consome por dentro, porque sabe que não vai saudar os guerreiros que representam sua instituição quando eles entrarem no campo de batalha. É esse torcedor que vai compartilhar expectativas, reclamações e histórias com um desconhecido qualquer na fila para entrar no estádio.
Mas esse torcedor vai honrar a história do clube. Ele vai ficar horas em pé sem se importar com o cansaço de um dia de trabalho. Ele vai ficar quase sem voz, mesmo sabendo que isso vai interferir em sua rotina. Ele vai gastar um dinheiro que muitas vezes lhe faz falta para comprar um ingresso, uma bebida, uma pipoca. Ele quer ajudar a continuar construindo a história daqueles que o antecederam.
No fim do dia, com vitória ou derrota, o torcedor se sente um vencedor. Ele se sente feliz quando chega em casa. Ele esteve em um local que tem seus problemas, mas também seus encantos. Tem aquele charme característico do futebol raiz, esse que burocratas de terno sismam em apagar da história. Ele escreveu mais uma página em sua história de frequentador de arquibancada.
Meia-Cancha
Coordenador de jornalismo na Rádio Cidade Tubarão e apresentador do Jornal da Rádio Cidade. Escreve sobre o esporte de Tubarão e política regional.
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