Sábado, 20 de abril de 2024
Geral

Caso Kiss: emoção marca depoimento de sobrevivente neste domingo (05)

Júri encerrou o quinto dia de depoimentos e deve ser retomado na segunda-feira (06) ás 9h.

Porto Alegre - RS, 05/12/2021 21h00 | Por: Redação | Fonte: Tribunal de Justiça do RS
Delvani relatou como foi o princípio do incêndio e mostrou as cicatrizes que carrega no corpo. Foto: Juliano Verardi

Terminou por volta das 19h45 deste domingo, o quinto dia de depoimentos no júri do caso da Boate Kiss. O julgamento é realizado no 2° andar do Foro Central I, em Porto Alegre.


Doralina Peres que atuou como segurança terceirizada na Boate Kiss há quase 3 anos, foi a última a ser ouvida. A vítima foi arrolada pela defesa de Elissandro Callegaro Spohr (Kiko). Antes, houve a oitiva de Tiago Flores Mutti (informante) e Delvani Brondani Rosso (vítima).


Na segunda-feira (06) todos os depoentes são indicação da defesa de Kiko: Stenio Rodrigues Fernandes (testemunha), Willian Renato Machado (vítima) e Nathalia Daronch (vítima).


Doralina era funcionária terceirizada, contratada pela empresa de Everton Drusião, seu chefe direto. Ela informou que, na festa de 27/01/13, a Kiss estava cheia, mas não lotada. Disse ao magistrado que não lembra de tudo o que ocorreu naquela noite, mas que foi retirada por um colega e levada a área do estacionamento de um supermercado localizado do outro lado da rua. Doralina ficou quase um mês internada no hospital, teve problema pulmonar e fez enxerto na perna. Cinco colegas dela faleceram em decorrência dos ferimentos.


Segundo informações divulgadas pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Doralina respondeu ainda perguntas sobre os procedimento de segurança da casa, sobre sua função naquela noite e treinamento de segurança, além das orientações que recebia sobre a atuação na segurança. 


De testemunha a informante
Tiago Flores Mutti, Engenheiro Civil, 46 anos, que atuou na reforma da Boate Kiss, em 2009 também foi ouvido, mas como informante. Por responder a processos criminais envolvendo a casa noturna, ele passou de testemunha (arrolada pela defesa de Mauro Londero Hoffmann) para a condição de informante. Isso significa que ele não prestou compromisso de falar a verdade, como uma testemunha (que pode responder pelo crime de falso testemunho se não o fizer), e apenas prestou informações a respeito do que sabe sobre os fatos. Ele morava em Cruz Alta e não estava na danceteria na noite do incêndio.
Em seu depoimento, que durou 5 horas, Tiago Mutti informou que auxiliou nas obras da reforma na Boate Kiss, em 2009, quando a irmã dele, Cíntia, era a proprietária do estabelecimento em sociedade com outros dois empresários. 


Emoção
O depoimento mais emocionante do dia de Delvani Brondani Rosso, 29 anos, que foi salvo pelo irmão, Jovani, que retirou ele e outras pessoas que estavam no interior da Boate Kiss, durante o incêndio de 27/01/13. Com um relato detalhado e bastante emocionado, o jovem mostrou aos jurados as marcas que ainda carrega no corpo após aquela noite, especialmente nos braços e nas costas. “Enquanto fui caindo, fui me despedindo da minha família, dos meus amigos, pedindo desculpas por alguma coisa que eu tivesse feito. Senti meu corpo queimar, fui caindo e desmaiei”. Ele perdeu três amigos, Henrique, Cássio e Jacob.


Delvani morava no município de Manoel Viana e estava visitando um amigo naquele final de semana. Era a segunda vez dele na boate. O grupo de sete amigos chegou por volta da 1 hora da manhã. A fila para entrar na Kiss “dobrava a esquina”. Ele percebeu que o ambiente interno estava quente. “Estava muito lotada. Fomos para o pub porque não tinha lugar para ficar”. Apesar disso, a festa transcorria normalmente. Até que ele viu um rapaz pulando o balcão da copa, chamando as pessoas. “Não dei muita bola porque pensei que fosse briga”.


O irmão dele, Jovani, e outros amigos, estavam dando uma volta naquele momento. “Quando esse menino gritou 'fogo', a gente se deu por conta que era sério quando todo mundo se virou para a saída. Nunca pensamos que seria tão sério. Entrelaçamos os braços para não nos perder. Fomos muito devagar porque era muita gente”.


Quando os amigos passaram do canto da copa, as pessoas começaram a ficar mais agitadas. “Comecei a ouvir gritos. E começou a ficar mais intenso o empurra-empurra. Com isso, soltamos os braços. E aí, foi cada um por si. Sempre pensei que conseguiríamos sair”. Delvani recorda que percorreu mais uns 3 metros e as luzes se apagaram. “Comecei a enxergar a fumaça e a sentir o odor. A situação ficou incontrolável. Tu era empurrado para onde a massa ia”.


Quando ficou tudo escuro, Delvani escutava barulho de vidro quebrando. Ele contou que seguiu caminhando conforme podia. “Chegou uma hora em que percebi que não ia conseguir sair”. A vítima lembra que foi perdendo as forças e desmaiou. Ele só acordou quando já estava na calçada.


O irmão dele viu o princípio do incêndio e conseguiu sair a tempo. Foi ele quem resgatou Delvani. Jovani tirou a camisa e entrava rastejando pelo chão para puxar as pessoas. “Os homens, ele puxava pelo cinto; e as meninas, pelos cabelos. Se ele puxasse pelo braço, tirava a pele das pessoas”.


Delvani falou que o irmão relatou que os bombeiros ajudaram com uma mangueira e brigadianos alcançaram uma lanterna para que ele pudesse acessar a casa noturna. “Ele me disse que viu uma pessoa pesada tendo convulsões dentro da boate. Voltou e disse ao bombeiro, que não queria entrar. Meu irmão insistiu e eles entraram e resgataram a pessoa. Depois disso, ele não viu mais o bombeiro”.


Em estado de choque, Delvani sentia muita dor. “Cada vez que eu gritava, parecia que tinham enterrado uma faca na minha garganta”. Ele foi levado ao Hospital de Caridade de Santa Maria. “Parecia uma cena de guerra. As pessoas gritando, pretas, queimadas. E eu também gritava socorro. Minha pele colou na camisa e puxaram com uma pinça. Desmaiei e fiquei 1 mês em coma”. Foram mais de 2 meses internado. O jovem emagreceu 20 kg, teve que reaprender a fazer coisas básicas, como caminhar e se alimentar.


A vítima foi transferida para o Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre. “Fiquei enfaixado, imóvel. Era um prisioneiro do meu corpo. Só conseguia pensar em por que tanta dor e tanto sofrimento”. O irmão contou a ele que dois amigos, Cássio e Henrique, não sobreviveram. “Naquele momento eu queria explodir, terminar com tudo, mas nem isso podia. Apenas escorria as lágrimas. Demorou muito tempo para eu digerir tudo isso. Mas, graças a Deus, estou aqui”.

Ele não lembra de ter visto funcionários da boate orientando a saída do público. Não observou extintores nem brigadistas de incêndio.

 

publicidade

O Caso


Em 27 de janeiro de 2013 a Boate Kiss sediou a festa universitária denominada “Agromerados”. No palco, se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, quando um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo.


O incêndio, que se alastrou rapidamente, causou a morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos. As responsabilidades são apuradas em seis processos judiciais. O principal tramitou na 1ª Vara Criminal da Comarca, foi dividido e originou outros dois (falso testemunho e fraude processual).


No processo criminal, os empresários e sócios da Boate Kiss, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o vocalista da Banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor musical Luciano Bonilha Leão, respondem por homicídio simples (242 vezes consumado, pelo número de mortos; e 636 vezes tentado, número de feridos). Eles serão julgados por um Conselho de Sentença, no Tribunal do Júri, no dia 1º de dezembro de 2021, no plenário das Varas do Júri da Comarca de Porto Alegre, junto ao Foro Criminal.


Foi concedido o desaforamento (transferência de julgamento para outra comarca) a três réus – Elissandro, Mauro e Marcelo – para serem julgados em uma Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre. Luciano foi o único que não manifestou interesse na troca, mas, através de um Pedido de Desaforamento do Ministério Público, o TJRS determinou que ele se juntasse aos outros, em um julgamento único, na Capital.

 

Leia mais

SCTODODIA - Ligados em tudo Grupo Catarinense de Rádios
Alfredo Del Priori, 430 Centro | Criciúma - SC | CEP: 88801630
(48) 3045-5144
SCTODODIA - Ligados em tudo © Todos os direitos reservados.
Demand Tecnologia

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.