Um levantamento, feito com bases nos dados do IBGE, mostra que o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400% entre 2010 e 2019. No entanto, o número ainda é baixo, em especial em universidades particulares.
Não demora muito para perceber que, em universidades particulares, o número de alunos negros é muito pequeno. Em cursos mais disputados, como medicina, odontologia e engenharias, por exemplo, as turmas possuem cada vez menos estudantes negros. O advogado Diógenes Mina de Oliveira, secretário geral da OAB, lamenta que o acesso ainda é desigual e um dos motivos é o preconceito institucionalizado. "Nós somos uma democracia recente, mas um país com mais de 500 anos. Destes, mais de 380 foram de escravidão institucionalizada. Depois, não tivemos apoio governamental. O negro acabou tendo que ir para as periferias e não tinha incentivo. Por isso, a política de cotas vem para tentar corrigir um pouco desse erro. Lógico que sempre tem um ou outro que consegue se destacar, mas temos que verificar que essa não é a realidade da maioria. Muitos negros trabalham durante o dia, para estudar a noite. Não têm condições de disputar vagas mais concorridas", lamenta.
O advogado ainda afirma que, muitas vezes, os profissionais negros ainda são tratados com bastante diferença. "O preconceito é grande, só está mais mascarado. Eu já sofri muito atuando como advogado. Não o preconceito racial, que é específico contra a pessoa negra, mas o preconceito estrutural. A pessoa te olha e diz 'não, você não pode ser médico/advogado, porque é negro'. Não porque ele não gosta de negro, mas porque aprendeu em casa, na escola, com os amigos. Como acabar com isso? Com educação, inclusão, igualdade racial, recursos em universidades, em concursos, etc.. Tudo isso para tentar diminuir essa distância que existe hoje", comenta. Justamente por esse histórico de discriminação, Diógenes acredita que é necessária a luta para a quebra do preconceito estrutural.