A solidão traz grandes riscos à saúde, como a maior propensão às doenças como: doenças cardíacas, derrames, demência e depressão. Mas a solidão também pode acarretar um problema muito maior, que ameaça a democracia.
Segundo uma pesquisa alemã, denominado Extrem Einsam, um quarto dos jovens adultos entre 18 e 29 anos diz que se sente solitário frequentemente. Alguns centros de pesquisa apontam que a solidão já é uma pandemia global e foi acelerada pela pandemia de COVID-19.
O estudo Extrem Einsam (extremamente solitário), conduzido como parte do projeto Kollekt e financiado pelo governo alemão, sugere uma ligação entre solidão e atitudes antidemocráticas, indicando que a solidão pode representar uma ameaça à democracia.
Os solitários têm mais propensão às inclinações populistas e crenças em teorias da conspiração, além de maior propensão a acreditar em fake news. Ainda, os pesquisadores sinalizaram uma tendência a adotar atitudes autoritárias, apoiar a quebra de regras e a violência.
Aqueles que vivenciam solidão por um período prolongado geralmente desenvolvem uma perspectiva distorcida da realidade, frequentemente mais pessimista. Isolados, os jovens buscam a interação na internet, lugar onde já existe uma distorção da realidade, seja pela demagogia ou padrões de beleza impossíveis de alcançar, inflamando o indivíduo mais e mais.
Mas, note que o extremismo – neste momento falarei por mim – não é algo radical, no sentido de raiz do problema, mas sim algo extremo, pois se refere a algo voraz que leva a atitudes antidemocráticas.
No entanto, essas atitudes estão à margem do problema, nunca se aprofundando ou lidando com as raízes propriamente ditas. É por isso que são persuadidos por populistas e não por radicais.
Não me espanta que essa solidão, que faz o sujeito simpatizar com o ataque à democracia, seja incentivada pelos extremistas que defendem o Homeschooling, uma atividade que extrai o jovem da sociedade em um momento muito importante do seu desenvolvimento, momento no qual a interação é uma das ferramentas que tem suma importância – se não a mais importante – para o desenvolvimento do indivíduo.
É o momento que ele entende que existem outras classes sociais, outros gêneros, outras raças e outras religiões, etc. É o momento de entender que ele, enquanto indivíduo, tem suas peculiaridades, assim como os outros têm as deles, e juntos contribuem para a construção das políticas públicas que sustentam a sociedade e garantem a democracia.
Me parece que a democracia sempre está em risco e sempre precisaremos defendê-la. Isso só mudará quando nos engajarmos verdadeiramente nos assuntos, em vez de apenas arranhar a superfície dos problemas... deveremos, também, nos abrirmos para as diferenças e dialogarmos. Assim, poderemos fugir do populismo da demagogia – o mal que engaja e vence eleições.
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Além do Eu
Luiz Gustavo Pereira é compositor e escritor com dezenas de trabalhos lançados por bandas e sua produtora. É acadêmico de Psicologia e foi um dos fundadores da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Lasesp) e é membro da Liga Acadêmica de Psicanálise (Lepsic).
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