Sábado, 22 de junho de 2024

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Paulo Monteiro

Furiosa: ópera de George Miller faz do cinema de ação um refúgio para a criatividade

31/05/2024 18h39 | Por: Paulo Monteiro

Historicamente, filmes de ação quase sempre foram vistos como um gênero “menor” dentro do cinema. Algo menos importante, mais distante do que se entende enquanto arte. É claro que existem exceções - sempre existiram. Mas, no todo, o olhar para esse tipo de obra, sobretudo as norte-americanas, sempre me pareceu condicionado a esse pensamento de inferioridade. Felizmente, alguns longas parecem estar quebrando esse (pré) conceito - e Furiosa: Uma Saga Mad Max, com certeza faz parte dessa mudança.

Dirigido por George Miller, Furiosa é o quinto filme de uma franquia de sucesso criada pelo cineasta na década de 1970, parcialmente encerrada em 1985 e resgatada nos anos 2010. O longa é uma prequel de Mad Max: Estrada da Fúria, filme de 2015 que colocou o diretor de volta no mapa e reacendeu discussões sobre o olhar que a indústria, o público e a crítica tem para com o cinema de ação. Discussões essas que ganham mais uma camada com o lançamento de 2024.

O filme acompanha a odisseia de Furiosa, personagem interpretada por Alyla Browne e Anya Taylor Joy, em uma jornada dividida em cinco capítulos: da infância, quando foi arrancada de sua mãe e do paraíso, até a vida adulta, quando transformada em uma guerrilheira que deseja, sobretudo, voltar para casa. O retorno ao lar, no entanto, é marcado também pela necessidade de vingança contra aqueles que a transformaram. 

Furiosa é não apenas o capítulo mais difícil e ambicioso de Mad Max como, também, parte importante do que se apresenta como um movimento de antítese ao que normalmente esperamos do cinema de ação. O filme se posiciona como uma obra séria e grandiosa tanto quanto um drama, por exemplo. A diferença é que ele oferece uma criatividade visual e narrativa muito maior do que boa parte dos longas recentes de gêneros mais “prestigiados”.

Com Furiosa, George Miller faz do cinema de ação um verdadeiro refúgio para a criatividade. Uma ópera capaz de conduzir o espectador pela sua explosão visual, com uma fotografia plástica e, por vezes, até mesmo artificial - mas a todo momento fascinante. Seus personagens são humanos, mas, visualmente, funcionam como reflexo da estranheza daquela humanidade, que vive em ambientes flagelados e dignos de pouca esperança. 


 

O cineasta se agarra à força das imagens para construir essa ópera de ação. Com poucos diálogos, principalmente da sua personagem principal, que realmente tem apenas cerca de 30 linhas de fala, consegue dar mais profundidade às características daquele mundo do que todos os demais filmes da saga Mad Max. Faz isso através de sequências de ação onde a câmera nos leva de dentro de um motor para o alto de um penhasco em questão de poucos segundos, de maneira fluida e empolgante, explorando toda a estética de seus carros, personagens caricatos e grandiosos cenários áridos, finalizando sempre (ou quase sempre) com o expressivo e dramático olhar de Anya - que não precisa falar para te impactar.

George Miller se vale de uma ideia propagada por Alfred Hitchcock há décadas, de que um filme não necessariamente precisa ter muitas palavras para empolgar o público - ao ponto de que, quando visualmente bem construído, pode fazer a “audiência japonesa e indiana gritar ao mesmo tempo”. Diferente da língua enquanto idioma, a imagem é universal - e o cinema de Miller compreende a importância disso.

Ao lado de outros filmes recentes como Estrada da Fúria e John Wick 4, Furiosa se apresenta como uma ideia diferente e mais valorizada do que pode ser o cinema de ação. Um gênero disposto a arriscar muito mais e explorar a fundo o poder da imagem, fazendo dela o artifício central para que histórias sejam contadas - com muita inspiração (inclusive de outros filmes) e, principalmente, criatividade. 

Nota: 4,5/5

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Furiosa: Uma Saga Mad Max está disponível nos cinemas. Confira o trailer:

Paulo Monteiro

Cinema em Cena

Paulo Monteiro é repórter da Rádio Cidade em Dia, de Criciúma, jornalista profissional e um apaixonado pelo mundo do cinema e cultura pop. Com passagens por veículos de imprensa de Criciúma, já escreveu sobre a sétima arte também para o Cinetoscópio e CineVitor.

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