Terça, 30 de abril de 2024

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Luiz Gustavo Kabelo

Distorções cognitivas da realidade

17/04/2024 16h25 | Por: Luiz Gustavo Kabelo

Por meio de uma vivência pouco rica de materiais essenciais para um desenvolvimento cognitivo saudável, criam-se barreiras de distorções que nos separam da realidade. Uma certeza absoluta que faz nosso coração pulsar pode ser, na verdade, nada mais nada menos do que uma distorção da realidade. 

Algumas abordagens da psicologia categorizam alguns tipos de distorções, com o intuído de “generalizar” movimentos que por vezes são compartilhados. Um exemplo é o pensamento polarizado dicotômico, em que o sujeito analisa uma informação de forma muito extrema e tendenciosa.

Como sintoma desta distorção temos a supergeneralização, no qual o sujeito acometido por esse tipo de distorção tende a “espelhar” situações. Nesse sentido, em um cenário onde uma mulher o rejeita como parceiro e causa-lhe angústia, ele tende a achar que todas as mulheres vão rejeitá-lo de alguma forma. Assim, começa a criar uma repulsa pelo sexo feminino.

Agora, vamos buscar nos aprofundar no inconsciente. Existem aspectos intersubjetivos, ou seja, nós como membros de uma sociedade, temos materiais subjetivos gerados em grupos. Por vezes uma distorção da realidade pode ser compartilhada, gerando um espectro de massas. Pelo fato de ser compartilhada, por vezes ela é normalizada. Nisso, tentar romper com a irracionalidade grupal se torna uma tarefa árdua e pode demandar um imenso material psíquico, tornando a distorção compartilhada muito mais perigosa para a sociedade. 

Uma distorção da realidade não deixa de ser uma defesa do nosso eu, pois a fantasia afaga a alma, já que não existe nada mais confortável para o eu que seu mundo sintético criado por ele para ele. Logo, resistências vão se formando à medida que a luz começa a iluminar a ilusão. Parecido com um vírus que se adapta para sobreviver, a fantasia também tem armas que se adaptam para fortalecer as resistências. Este mecanismo do eu muitas vezes o impede de encontrar o prazer, ou seja, não necessariamente a distorção traz a felicidade, mas sim é algo que o priva da dor. 

Muitas dessas atividades psíquicas são inconscientes, o que torna muito mais difícil o ser emergir nessa ilusão. Mecanismos como a resistência trabalham para manter esse material nas sombras do inconsciente. Contudo, mesmo ele sendo inconsciente afeta o eu e interfere no seu modo de agir e pensar.

Voltando para o primeiro exemplo- o do homem que foi rejeitado- para ele se torna menos doloroso presumir que todas as mulheres são seres nefastos, pois assim a aceitação da rejeição se torna mais palatável. Logo, ele cria as resistências e a saída que encontra é não se relacionar com o outro sexo por medo de uma nova rejeição. Então, a fantasia de que as mulheres são odiosas é reconfortante já que ele não precisa pensar na dor da rejeição, pois para o sujeito ele só foi rejeitado pelo motivo das mulheres serem odiosas, graças à distorção da realidade que a resistência criou. 

Tentei sintetizar aqui alguns conceitos que são mais extensos e complexos: uma fração mínima de uma grande teoria foi o que você acabou de ler. Meu intuito foi enfatizar a importância da psicoterapia, pois esses conceitos estão presentes em nossa vida cotidiana. Por isso é sempre importante encontrar um bom psicoterapeuta. 

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Luiz Gustavo Kabelo

Além do Eu

Luiz Gustavo Pereira é compositor e escritor com dezenas de trabalhos lançados por bandas e sua produtora. É acadêmico de Psicologia e foi um dos fundadores da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Lasesp) e é membro da Liga Acadêmica de Psicanálise (Lepsic).

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