A chuva que castigou Praia Grande trouxe luz a um problema antigo desta região. Enquanto os céus despejam suas lágrimas sobre Praia Grande, o Rio Canoas, parece mais um depósito de seixos do que uma via aquática.

Apesar de todo o trabalho de desassoreamento dos rios do município, o Rio Canoas, que faz a divisa, é federal. Por esse motivo, autoridades locais não têm autorização para fazer qualquer intervenção.

Mas o problema é ainda mais grave: pelo menos cinco empresas têm requerimentos com autorização de manter seixo rolado no interior deste rio.

Ou seja, o rio é mais do que apenas uma fronteira líquida entre municípios. Ele se tornou um santuário para essas corporações, que obtêm permissão para estocar seus seixos rolados em suas águas, como se fossem cofres naturais para suas riquezas.

Retiram apenas quando é conveniente, quando seus apetites por construção e lucro exigem. Enquanto isso, as cidades à sua volta agonizam sob o peso da inundação.

Veja que ironia. Praia Grande, Mampituba, Passo de Torres e São João do Sul são as primeiras a sofrer com a fúria do rio transbordando. Cheias e desalojados tornam-se a paisagem desoladora de um cenário onde o descaso é o protagonista.

O prefeito Elisandro Machado (Fanica) promete justiça. Ele acredita que uma ação na justiça será suficiente para mover montanhas de seixos e desfazer décadas de negligência. Enquanto isso, o rio continua seu papel de servir às ganâncias das empresas, indiferente aos apelos da população.

Que cena digna de uma tragédia grega moderna! O rio, não mais uma fonte de vida, mas sim um símbolo de desespero. E as empresas, não mais criadoras de emprego e progresso, mas sim agentes de destruição e miséria.