Segunda-feira, 20 de maio de 2024

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Luiz Gustavo Kabelo

Idiota Útil (e convicto)

23/01/2024 14h20 | Por: Luiz Gustavo Kabelo

Em certa medida, os idiotas úteis movem o mundo. Com um aspecto de massa, estão por aí andando em grandes manadas ou sozinhos de frente para uma tela, mas como nós os identificamos?
Existem três pilares que formam nosso objeto de estudo e tentarei descrevê-los minimamente aqui, mas deixarei o resto do desenvolvimento com você meu leitor.  Não é incomum esbarrar com um desses seres úteis por aí, você já os encontrou, apenas busque agora relacionar o que lhes direi com o que você vivência. 

O primeiro aspecto é aderir às filosofias de grupos já existentes, por vezes usam do passado, desenterram crenças mitológicas interpretadas erroneamente - a maioria das vezes erroneamente. Dirão que suas crenças são verdadeiras porque sobreviveram ao tempo, portanto o certo é manter a “tradição”. Não é comum grupos como esses aderirem a um sentimento saudosista, por exemplo: em algumas bolhas dizem que o Latim é a língua verdadeira e, assim que nos afastamos dele, a depravação se ergueu em nossa sociedade (espero intensamente que você não concorde com essa asneira). 

Essa primeira parte é muito importante, porque o idiota útil sempre tenderá a uma solução encantada, que apenas a convicção falaciosa pode gerar, pois ele admite um problema, porém, a solução que nosso idiota encontra é uma fantasia que o assombra e o faz pulsar, vibrando e amando seu conto de fadas, sua solução.

A segunda parte que assegura a posição do nosso ilustre idiota é a falsa compreensão de sua causa. Ele terá muitas frases de efeito e palavras calculadamente encaixadas. Porém, com uma investigação mais apropriada e com um pouco de dialética, o conto de fadas se desfaz. Claro, a lógica com ele não funcionará porque ele ama seu mundo e suas respostas, ama seu conto de fadas. Então, se faz necessário o uso de outras ferramentas. 

Mas é claro! Ele já estará armado, pois seu meio já o blindou, não admitirá nada de certos autores e alguns adjetivos serão usados, como “comunista”, “neoliberal”. E, alguns até estarão certos, mas normalmente dão uma resposta muito vaga, pequena, que não abrange toda a realidade. Esse adjetivo não necessariamente quer dizer algo, mas sim tem um papel de descredibilizar, já que se faz recortes da realidade e lhe é aplicada sua fantasia. Então, com frações de verdades, eles nos trazem um tanto de maldade, no sentido de querer fugir, no sentindo de não querer debater e conversar, para então se criar algo mais apropriado para o problema.

A importância da criação desses adjetivos é crucial para quem se beneficia dessas bolhas, pois assim asseguram que seus peixinhos não nadem por outros mares, ficando em águas rasas, tendo em vista que é muito mais fácil pescar um peixe que vive no raso. Ali, o desenvolvimento é impedido com mentiras e você saberá, daqui a pouco, como é importante essa superficialidade. 
Se percebe que não estão em busca de se desenvolver, mas sim de fazer valer o que é dito literalmente: dizem não ao desenvolvimento de uma ideia, mas sim a uma ideia imposta através da rigidez. A proposta não é a de debater e ouvir as demandas do outro, as histórias dos sujeitos e entender pelo que o outro passa, mas sim de convencer.

A terceira etapa que assegura que nosso amigo útil se perpetue no seu lugar é esta: terá um ídolo. Alguém que conseguiu pescar esse peixinho perdido, alguém a quem ele possa confiar e lhe dê sua filosofia; alguém bom com a retórica. Provavelmente este ídolo será o que tem as melhores frases prontas, que já sabe da sua condição, que conhece seu nicho... este ser já conhece esse mar, sabe que peixe nada por aqui, e sabe qual é a melhor isca para tais peixinhos. Em uma espécie de loop, nosso convicto passa por todas as etapas e, quando chega na terceira, é apresentado a ele uma nova filosofia, criando outro ciclo. 
 

Os ídolos estão o tempo todo arrematando e trocando os idiotas úteis, alguns até compartilham da mesma filosofia. Contudo, sempre ocorre essa transição, pois os ídolos também caem, pois geralmente suas filosofias são criminosas ou simplesmente saem da moda, e deixam idiotas órfãs.

Cada ídolo cria sua própria bolha e, para mantê-la, é necessário criar entretenimento e reforço para esses cardumes. Por isso vimos tantas Fake News, pois é necessário manter seus peixinhos alimentados - hoje existe uma bolha gigantesca no Brasil que tem até mesmo seu próprio streaming. 

É importante entendermos esse processo pois, em alguns casos, estão reescrevendo a história: as fantasias estão começando a emergir por número, não pela ciência, não pela lógica e não pela realidade, mas sim pela quantidade de idiotas úteis. 

Infelizmente não posso me render ao ceticismo, do contrário estaria tranquilo. Então eu escrevo, escrevo porque não é útil, pois se fosse, e se quisesse ser útil, me juntaria aos convictos que estão aos montes, pelo menos eles têm sua “verdade” para consolá-los, e talvez por isso se apeguem tanto. 

Mas, infelizmente, eu prefiro a sombra da inutilidade, sem pregar nada, apenas ganhando adjetivos. Minto! Prego sim: o autoconhecimento, o senso crítico e o avivamento da filosofia que entristece e nos tira da utilidade banal. Se for para ser útil, que seja para mim e para meus gatos, para minha família e para minha esposa, não para esses ídolos medíocres de sorrisos falsos, que pregam inverdades e sugam dinheiro e vida de tantos idiotas - estes sim úteis! Pena que não para eles mesmos...

 

Luiz Gustavo Kabelo

Além do Eu

Luiz Gustavo Pereira é compositor e escritor com dezenas de trabalhos lançados por bandas e sua produtora. É acadêmico de Psicologia e foi um dos fundadores da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Lasesp) e é membro da Liga Acadêmica de Psicanálise (Lepsic).

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