Segunda-feira, 20 de maio de 2024

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Luiz Gustavo Kabelo

Nada é mais perigoso do que um idiota convicto

16/01/2024 15h42 | Por: Luiz Gustavo Kabelo
Foto: Reprodução

O que banha o pensamento contemporâneo é a convicção, a certeza, um pensamento sólido que não pode ser dissecado, pois, se o fizermos, iremos de encontro ao abismo -ou se preferir, o vazio.

Nada é mais perigoso que um idiota convicto, porque são miseráveis sem culpa. Se você conseguir, porventura, abrir o peito ou uma mente deles, encontrará o abismo, a ausência de calor, de ternura, nem um tipo de amor. Minto, você encontrara um amor pela sua convicção. 

As convicções são inimigas da verdade e mais perigosas que as mentiras. Os convictos fogem do racionalismo, o qual defende que o conhecimento é constituído por meio da dúvida. Podemos voltar mais no tempo com Sócrates “Só sei que nada sei” - frase que já expliquei em outras colunas. Então, em um idiota convicto, a tarefa de troca de conhecimento, de desenvolvimento do conhecimento se faz cada vez mais difícil. Se constrói uma desvalorização da literatura e das ciências no geral, pois no advento da pós-modernidade se faz necessário que tudo seja mais rápido, um tanto mais mastigado, pouco complexo, tornando todo um tanto raso. São simplificadas temáticas sérias em livros pequenos -resumo do resumo- em vídeos pequenos, e com essa fração de conhecimento, as quais muitas são mentirosas também, se cria a convicção vazia. 

Como podemos ver, as mentiras também podem criar certezas, dificultando ainda mais o debate e o desenvolvimento, porque a única coisa que não pode ser rebatida com a ciência é a mentira, já que ela não precisa de nada para se fundamentar. Enquanto a ciência necessita de fatos, números, dados qualitativos e quantitativos, a mentira só necessita de um fator: a convicção.

Neste primeiro exemplo, citei um tipo de convicção minimamente embasada -muito minimamente mesmo. Ainda existe o outro tipo de convicção e, talvez, seja a mais perversa, porém mais inocente, que faz do nosso convicto quase um coitado. Quando se cria ídolos, sendo eles totalmente enviesados, seja pelo mercado, pela política, por um carreirismo em qual área for feito para se elevar de alguma forma, cria-se o pior tipo de convictos. Eles podem (e vão) apelar para instintos animalescos, fé, ou seja, para o que as pessoas têm de mais precioso; dirão até que os filhos de sua audiência estão em perigo. Não consigo calcular tamanha covardia, espero que um dia os convictos possam. 
 

Que triste se faz a vida de um convicto, tão apaixonado pela sua tese que não consegue participar de outra cultura, amar o diferente e contemplar o novo e o antigo! Consegue, apenas, ver o mundo que lhe rodeia, apenas essa bolha pobre que não se desenvolve. 

Obviamente, existem convicções saudáveis, mas o problema é quando ela cria ídolos e idolatria, adoradores e seguidores de homens. Fora isso, a saída é como já frisei em outras colunas: trabalhar o senso crítico e buscar boas fontes de informação, a boa literatura, e entender que a maioria dos conteúdos que temos em nossas redes são enviesados, seja pelo engajamento ou pelo desejo de almejar carreiras maiores. 

Nossa jornada pela mente simples dos convictos ainda não acabou e, na coluna da semana que vem, falaremos mais sobre os tais convictos. 

“Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. A filosofia não serve nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para entristecer. Uma filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é filosofia.” -Gilles Deleuze

 

Luiz Gustavo Kabelo

Além do Eu

Luiz Gustavo Pereira é compositor e escritor com dezenas de trabalhos lançados por bandas e sua produtora. É acadêmico de Psicologia e foi um dos fundadores da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (Lasesp) e é membro da Liga Acadêmica de Psicanálise (Lepsic).

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