Praticamente todo e qualquer slasher lançado a partir da segunda metade da década de 1990 bebe, de alguma maneira, da fórmula do primeiro Pânico (1996) de Wes Craven. Uma sátira que explora os clichês e absurdos do próprio gênero de maneira criativa, divertida e cativante. Dito isso, era de se esperar que o “reboot” da franquia, que já conta com dois filmes (Pânico 5 e 6), fosse capaz de se reciclar e trazer a mesma essência para os dias atuais. Quem conseguiu esse feito, no entanto, foi um filme não tão esperado: Feriado Sangrento.
Dirigido por Eli Roth, cineasta conhecido por Albergue (2005) e pelo papel do “urso judeu” em Bastardos Inglórios (2009), Feriado Sangrento (Thanksgiving, em inglês) é exatamente aquilo que os novos filmes da saga Pânico tentam ser, mas não conseguem: um slasher com mortes criativas, por vezes incômodas, e uma boa dinâmica que satiriza o próprio gênero de maneira completamente escrachada - mas não estúpida.
Na trama, a abertura de uma loja em ritmo de Black Friday no Dia de Ação de Graças provoca a morte de três pessoas. No anseio por agarrar os produtos em promoção, os clientes acabam passando um por cima dos outros e provocando um verdadeiro massacre no estabelecimento.
A tragédia recai sobre o dono da loja, um homem rico que, de maneira negligente, colocou apenas dois seguranças para conter uma multidão de consumidores fervorosos. Um ano depois do ocorrido, o estabelecimento se prepara para abrir no feriado - mas é impedido em função de uma série de assassinatos diretamente relacionados ao massacre.
A partir daí, acompanhamos um grupo de amigos adolescentes que estão na mira do assassino - que, vestido de pioneiro e com a máscara de William Bradford (o governador do primeiro Dia de Ação de Graças), quer construir uma mesa com figuras centrais da tragédia para “comemorar” o feriado.
Feriado Sangrento não é aquele filme que vai lhe apresentar algo novo, pelo contrário. Tudo o que você vê ali pode ser visto no Pânico de 1996 - um assassino mascarado, um grupo de adolescentes e as piadas que satirizam o próprio gênero slasher. Isso, no entanto, não é demérito algum para um longa que em nenhum momento se propõe a ser revolucionário, mas sim a executar muito bem uma fórmula hoje já consagrada no cinema de terror.
Eli Roth entrega um longa pouco pretensioso, mas bem redondo dentro do seu próprio mundinho. A figura do assassino, vestido com roupas típicas de um pioneiro norte-americano e uma máscara um tanto quanto ameaçadora, é marcante. As piadas escrachadas sobre o comportamento doentio de uma sociedade que ama consumir em excesso (o estopim da tragédia) e usar as redes sociais de maneira banal, estão lá e funcionam muito bem.
Um dos pontos altos do longa é, sem sombra de dúvidas, a criatividade na direção das mortes. Esse fator, marcante em filmes de sagas como Halloween e do próprio Pânico, é explorado com maestria por Eli Roth - que sabe desenvolver um humor ácido em cenas viscerais e bastante chocantes.
No fim das contas, Feriado Sangrento é o reflexo de algo que já vimos diversas vezes no cinema, mas raramente executado com essa qualidade. Diferente de Pânico 5 e 6, o longa não fica dependente das muletas de uma franquia, mas sim de um gênero - e, pela dimensão, isso é bom o suficiente.
Nota: 3.5/5
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Cinema em Cena
Paulo Monteiro é repórter da Rádio Cidade em Dia, de Criciúma, jornalista profissional e um apaixonado pelo mundo do cinema e cultura pop. Com passagens por veículos de imprensa de Criciúma, já escreveu sobre a sétima arte também para o Cinetoscópio e CineVitor.
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