Domingo, 19 de maio de 2024

COLUNISTAS

Paulo Monteiro

Assassinos da Lua das Flores: Scorsese mistura gêneros em filme sobre ganância histórica

23/10/2023 13h58 | Por: Paulo Monteiro

O apagamento dos nativos indígenas da história dos Estados Unidos se deu, em sua grande maioria, por meio de conflitos diretos contra homens brancos. A disputa de terras após invasões era quase que puramente física, com o uso de armas brancas e de fogo em ataques normalmente anunciados.

O que aconteceu com os Osage (tribo nativa dos Estados Unidos) a partir de meados da década de 1920, no entanto, foge completamente do “comum”. “Valores” foram invertidos e o apagamento desse povo passou a ser muito mais sistêmico e sútil. Nas palavras de um dos próprios personagens indígenas de Assassinos da Lua das Flores: “era mais fácil quando sabíamos quem eram nossos inimigos”. 

Dirigido por Martin Scorsese (O Lobo de Wall Street, Os Infiltrados, Taxi Driver, Os Bons Companheiros…), Assassino da Lua das Flores conta a história real do extermínio promovido contra os Osage em Oklahoma, nos Estados Unidos. Mas não se trata de um massacre como o sofrido pelos originários em Bear River ou pelos negros em Tulsa. Na verdade, foi muito mais político e gradual.  

Em um acordo de divisão de terras no início do século passado, os Osage ficaram com o que inicialmente parecia um território ruim e infrutífero. Depois, descobriram petróleo no espaço, o que mudou por completo a vida da tribo nativa que ali vivia. Os indígenas, então, ficaram ricos e passaram a ditar o rumo dos negócios em uma parte do Oklahoma.

Na década de 1920, no entanto, os Osage passaram a ser vítimas de uma série de assassinatos. Milionários, eles não apenas já viviam em meio aos homens brancos como também faziam negócios e filhos com eles e elas. E foram essas relações que aos poucos culminaram na morte dos indígenas. 

A mão de Scorsese 
A história dessa tribo indígena milionária é contada por meio Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio) e Mollie Burkhart (Lily Gladstone) Ele, um ex-cozinheiro militar da Primeira Guerra Mundial que se muda para o Oklahoma para morar com o seu tio, o assessor do xerife local William Hale (Robert DeNiro), com a promessa de poder prosperar em um meio onde o dinheiro do petróleo rola solto. Ela, uma rica Osage cuja mãe, dona da herança da família, está prestes a falecer.

A vida dos dois se cruza. Primeiramente, pelo amor. Depois, por uma relação de ganância orquestrada por William Hale que tem como Ernest a sua principal peça e Mollie a sua maior vítima. 

Em Assassinos da Lua das Flores, Martin Scorsese abandona mais uma vez a dinâmica de Nova York (tão bem retratada na grande maioria de seus filmes) para explorar uma história densa, real e cruel envolvendo os povos originários dos Estados Unidos e a ganância dos homens. 

O diretor mergulha em uma história que, primeiramente, já se destaca pela inversão de valores. Quem tem dinheiro e poder na Oklahoma dos anos 1920 são os indígenas, e não os brancos. Diferentemente de qualquer outra parte dos Estados Unidos da época, são os brancos quem dirigem os carros para os nativos, que usufruem das jóias e das riquezas fruto do petróleo encontrado em suas terras.

O cineasta consegue estabelecer essa dinâmica de maneira rápida e simples logo no início do filme. Com um plano sequência na visão de Ernest, o cineasta mostra as interações entre brancos e indígenas nas ruas de Oklahoma, onde o poder e a serventia estão em lados opostos do que estamos acostumados. 

No entanto, por mais que o dinheiro esteja concentrado nas mãos dos Osage, ele flui pelos negócios criados e tocados pelos brancos que compõem Oklahoma. Isso acaba gerando uma relação de existência e consumo que, com o tempo, vai fazendo com que a riqueza mude de lado.

Scorsese enxerga esse episódio histórico de maneira muito sóbria e linear, sendo capaz de dar ao espectador o peso que ele realmente tem. Em três atos muito bem definidos, ele dá profundidade a todos os personagens que ajudam a contar essa história, fazendo com que todas as ações e viradas de chave sejam muito bem sentidas e justificadas. 

A história flui de uma maneira muito natural, te deixando preso não às viradas de chave de cada ato, mas sim a continuidade daqueles personagens. Não são os grandes fatos que fazem com que você esteja interessado no longa, mas sim a boa construção de cada uma daquelas pessoas. Nenhum personagem está lá em vão, e tudo o que acontece com eles é capaz de transmitir, ao espectador, o devido impacto.

Tudo isso faz com que as 3h36 de Assassinos da Lua das Flores não sejam exageradas, mas sim necessárias. Scorsese não desperdiça tempo, ele o usa para solidificar as várias pontas que ajudam a contar essa história de ganância. 

Além disso, por mais que Assassinos da Lua das Flores não seja um filme de faroeste ou de máfia, o diretor consegue transitar e misturar esses gêneros para criar algo único, com a sua digital. O Western reside no ambiente histórico do início do século XX, que ainda carrega elementos desse período dos Estados Unidos, encerrado em 1890,seja nos cenários áridos, na característica das edificações ou no uso das armas. Já os traços dos filmes de máfia, que Scorsese inclusive ajudou a consolidar ao longo de sua carreira, está presente no jogo de favores e crimes entre homens brancos para tirar o dinheiro dos Osage. 

As atuações 
Quanto às atuações, não há o que retocar. Leonardo DiCaprio está incrível no papel de Ernest, um personagem que do início ao fim transparece o amor que tem por Mollie, ao mesmo tempo que se permite ser usado e fazer parte de um plano que destrói tudo aquilo que ela mais ama. Essa dualidade o acompanha do início ao fim e faz com que o telespectador não necessariamente tenha empatia por ele, mas sinta o peso de cada um de seus atos.

Robert DeNiro entrega a sua melhor atuação neste século. Um personagem sedento por poder, que se comporta de maneira diferente de acordo com cada meio. Amigável e aliado na frente dos Osage, tirano por detrás dele.

Mesmo assim, em um elenco com tantas estrelas, quem rouba a cena em Assassinos da Lua das Flores é Lilly Gladstone. A atriz centraliza a empatia do espectador, transparecendo melancolia, dor e amor em todos os três atos do filme. Ela é hipnotizante, agindo como o fio condutor de uma história tão longa e densa.

Aos 80 anos de idade, Scorsese consegue mais uma vez se renovar. Entrega um filme fora da sua “zona de conforto”, mas faz dos elementos que tão bem trabalhou em quase seis décadas de cinema a base de uma história grandiosa e atemporal. 

Nota:  ⭐ ⭐ ⭐ ⭐ ⭐

Para ler mais sobre cinema me siga no Instagram, Twitter e Letterboxd (@paulomonteiroc). Confira o trailer de Assassinos da Lua das Flores: 

 

 

Paulo Monteiro

Resistência (2023): filme utiliza elementos consagrados do sci-fi para construir universo cyberpunk original

02/10/2023 17h51 | Por: Paulo Monteiro

A vida para além da Terra é pensada em obras literárias desde o século XVII, quando O Sonho, livro de Johannes Kepler, imaginou o primeiro contato entre humanos e seres vivos extraterrestres na lua. A partir daí, H.G Wells, Mary Shelley, Isaac Asimov e outros escritores foram, ao longo dos séculos, contribuindo para a construção de elementos hoje extremamente comuns em obras de ficção científica. 

Algo que impera desde o primeiro sci-fi é justamente o contato entre o humano e o não humano e as reflexões que isso proporciona. O que podemos considerar vida? Assim que temos essa resposta, é possível dizer que um tipo de vida é mais importante do que a outra? Por que? 

Esses questionamentos chegaram ao cinema logo em 1902, com A Viagem à Lua, de Meliés. Ganharam outras camadas com Frankenstein (1910); Metrópolis (1927), Guerra dos Mundos (1953), Star Wars (1977); Blade Runner (1982) e por aí vai. 

Dificilmente veremos, hoje em dia, uma obra de ficção científica que traga um conceito novo, nunca antes visto nos livros e filmes consagrados ao longo dos últimos séculos. Resistência, nova obra de Gareth Edwards, diretor de Rogue One: Uma História Star Wars, não faz questão de ir além disso - mas entrega algo conciso e com um toque de originalidade. 

No longa, humanos constroem robôs com inteligência artificial e passam a incluí-los em seu dia-a-dia, para tarefas antes feitas apenas por pessoas reais. Em determinado momento da história, as I.A’s já carregam rostos, corpos e expressões humanas e ambos coexistem. 

A explosão de uma ogiva nuclear em Los Angeles, no entanto, acaba dizimando mais de um milhão de habitantes e recai sobre as inteligências artificiais. Os Estados Unidos, então, declaram guerra contra a tecnologia, que reside em harmonia com os humanos no continente chamado de Nova Ásia.

O agente norte-americano Joshua, interpretado por John David Washington, recebe a missão de se infiltrar no cotidiano do continente e matar Niermata, a pessoa responsável por criar uma inteligência artificial capaz de destruir a máquina estadunidense que promete dar fim a existência das I.A 's. A jornada de extermínio, no entanto, ganha outras camadas quando amor e outras experiências são adicionadas ao contato entre humanos e robôs.

Não há nada em Resistência que você já não tenha visto em outros conhecidos filmes de ficção científica. Diversos elementos consagrados em obras do gênero estão presentes no longa de Gareth Edwards, incluindo a discussão sobre humanidade e inteligência artificial - feita com muito mais profundidade em Blade Runner.

Não trazer nada novo, no entanto, não joga contra Resistência - pelo contrário. O filme não se perde na tentativa megalomaníaca de criar um novo fato para o gênero de ficção científica - algo que, por diversas vezes, acabou desvirtuando obras e fez com que elas se perdessem em ideias mal retratadas em tela. 
É possível dizer que Gareth Edwards jogou no seguro. Fez uso de elementos típicos do sci-fi para construir um universo cyberpunk bastante original. A originalidade, no entanto, vem do prisma dado pelo diretor às características da ficção científica.

A começar pelo cenário. As naves e edifícios extremamente tecnológicos podem até estar lá, mas são utilizados com muito menos frequência e contrastam muito bem com objetos e costumes comuns do nosso cotidiano, como carros e casas antigas e vestimentas comuns.

Essa interação entre design futurista e cenários rurais da Ásia cria uma estética bastante única e marcante para a obra de Edwards. A fotografia, dirigida por Greig Fraser (Duna, The Batman e Rogue One) explora muito bem esse contraste, que brinca com luzes brilhantes em uma metrópole e extensas plantações do interior asiático.

No meio desses cenários, então, é construída uma história simples, porém muito bem executada. O personagem interpretado por John David Washington descobre que a arma criada por Niermata é, na verdade, uma inteligência artificial criança - algo até então nunca visto.

A jornada ao lado da arma pende para o início de uma relação. Se torna cada vez mais difícil para Joshua entender o que realmente separam as inteligências artificiais dos humanos, visto que a demonstração de sentimentos verdadeiros, em determinado momento, parece não ser mais um empecilho para os robôs.

Resistência é uma ficção científica concisa, com histórias simples e elementos visuais marcantes, que te deixa com vontade de conhecer novas histórias dentro do universo construído assim que os créditos sobem. Não inova ou tenta ser inovador, mas consegue ser um respiro para um gênero de sci-fi que, por diversas vezes, carece de coração. 

É um filme que funciona tanto para os mais apaixonados por ficções científicas quanto por aqueles que apreciam uma decente jornada do herói. Tudo isso para, no final, deixar um gosto de “quando saberemos mais sobre os humanos e robôs desse universo?”.

Nota:  ⭐ ⭐ ⭐ ⭐

Confira o trailer de Resistência:


Siga-me nas redes:

 

Paulo Monteiro

Past Lives: filme de estreia de Celine Song traz reflexão profunda sobre destino e relações 

25/09/2023 21h05 | Por: Paulo Monteiro

In-Yun é uma palavra em coreano cujo significado não pode ser inteiramente traduzido para outra língua, mas que gira em torno da ideia de que existe um porquê de duas pessoas se encontrarem. Se dois estranhos se esbarram, seja em uma rua ou em um espaço randômico, deve ter havido algo entre eles em vidas passadas. Nenhuma conexão é realmente por acaso. 

Apesar de trazer um certo conforto, a ideia de que o encontro entre duas pessoas perpassa por um motivo e está relacionado a algo do passado não traz nenhuma certeza. Afinal de contas, de acordo com a própria interpretação sul-coreana sobre In-Yun, existem algumas camadas que separam esses encontros entre as vidas passadas e a presente. 

E é essa percepção sobre conexões humanas o fio condutor de Past Lives, filme de estreia da cineasta e dramaturga coreana Celine Song. O longa-metragem, produzido pela A24, brinca com a ideia de tempo, destino e amor de uma maneira muito original e cultural - como poucos romances são realmente capazes de fazer. 

Em Past Lives acompanhamos a história de Na Young e Hae Sung, dois amigos de infância profundamente conectados que se separam depois de uma mudança. Na Young deixa a Coréia do Sul ainda criança para ir aos Estados Unidos, junto de seus pais. Hae Sung permanece, com as memórias de um relacionamento de amor e amizade interrompido ainda em suas primeiras camadas. 

Nos Estados Unidos, a jovem coreana adota o nome de Nora e se torna uma escritora - sonho que cultivava desde criança. Já Hae Sung segue sua carreira, estuda em uma das melhores universidades do país e se forma engenheiro. 

Os dois se encontram 12 anos após a primeira separação, mas, desta vez, com um oceano inteiro separando-os fisicamente. Pela internet, eles voltam a fazer parte da rotina um do outro, com conversas e debates que compõem uma conexão que Nora, nos Estados Unidos há mais de uma década, não tinha desde que imigrou.

Apesar de intensa, a conexão chega ao fim em um determinado ponto, e só volta a ser estabelecida mais de dez anos depois do reencontro - desta vez, tanto física quanto presencialmente. 

Past Lives (ou Vidas Passadas, em português do Brasil) é um reflexo sensível e extremamente bonito sobre amores e conexões. Ancorado na vida de dois personagens, o longa-metragem consegue trazer de maneira singela e profunda muitos dos temas que acompanham a imigração.

Nora, nossa personagem principal, vê no reencontro virtual com seu amigo de infância o mais pleno conforto de se conectar com o seu passado na Coreia do Sul. Depois de tanto tempo nos EUA, longe da cultura onde foi criada e educada, a escritora consegue retomar uma conexão com o seu lar por meio de uma das pessoas mais importantes de sua vida até o momento em que deixou o continente asiático: Hae Sung.

Os dois primeiros arcos do filme se propõem a construir esse conforto que é voltar a conversar com um amigo (ou amor de infância). São nas conversas por vídeo-chamada com alguém do outro lado do Pacífico que Nora pode voltar a praticar o seu sul-coreano e falar de coisas de sua infância que ninguém que ela conhece nos Estados Unidos entenderia, por nunca terem vivido. 

Ao mesmo tempo, é a oportunidade de Hae Sung de dar sequência a um relacionamento que foi interrompido repentinamente na infância. Os dois não saiam de perto um do outro até que, quase de um dia para o outro, tiveram que lidar com a ausência por mais de uma década. 

Esse conforto que reside na retomada quase que nostálgica ao passado, no entanto, só existe por conta da distância. Nora e Hae Sung não estão fisicamente presentes todos os dias e, portanto, não precisam necessariamente encarar o que passou, apenas relembrar das coisas boas que estão lá atrás.

E para retratar isso, Celine Song não recorre ao excesso de flashbacks e nem nada do tipo. A cineasta utiliza das pausas entre diálogos, acompanhadas de sorrisos bobos nos rostos de Nora e Sung, luzes indiretas e amareladas de abajures e da ideia de que, mesmo quando estão sozinhos (em uma biblioteca, no quarto ou no trem), ambos estão focados na companhia um do outro.

O conforto, no entanto, deixa de existir a partir do momento em que o reencontro físico passa a ser uma possibilidade. A ideia de encarar de fato o passado se torna um peso na vida de ambos. Mais difícil do que isso é lidar com o pensamento de “o que seríamos se tivéssemos ou não tivéssemos feito isso?”.

Past Lives consegue retratar muito bem a angústia do “e se”. E se Nora não tivesse deixado a Coréia do Sul? E se tivesse mantido contato com Sung no primeiro reencontro? E se não tivesse construído uma vida nos Estados Unidos antes de ser confrontada, novamente, com o seu passado? 

Em nenhum momento o filme tenta nos responder precisamente a todos esses questionamentos, que pairam sobre os protagonistas de maneira muito fluida e verdadeira. Na verdade, as perguntas esbarram sempre na ideia do In-Yun, de que existe um propósito no encontro entre duas pessoas, mas que reside, de alguma forma, no passado. 

Por fim, a complexidade desses relacionamentos é perfeitamente retratada na direção de Celine, que opta por recursos de visuais de narrativa inteligentes na hora de contar essa história (como resumir 10 anos em um diálogo de um minuto na entrada do aeroporto), e nas atuações de Greta Lee (Nora), Teo Yoo (Sung) e John Magaro (Arthur).

Os três transparecem muito bem, com ou sem diálogos, o quão consumidor podem ser as dúvidas relacionadas ao amor. São muitas as camadas que compõem um relacionamento: cerca de 80, segundo o In-Yun. 

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐ 

Para ler mais sobre cinema me siga no Instagram, Twitter e Letterboxd. Confira o trailer de Past Lives:

 

Paulo Monteiro

Oppenheimer: em filme sobre criador da bomba atômica, Nolan reconhece limites e potencializa suas qualidades

04/08/2023 17h47 | Por: Paulo Monteiro

Se me dissessem, há cinco, que um filme de três horas sobre uma trama política histórica, com diversas cenas em preto e branco, encheria salas de cinema em uma cidade de médio tamanho do Sul de Santa Catarina, eu não apenas duvidaria como soltaria um verdadeiro sorriso de descrença. Em uma geração onde os longas que fazem milhões em bilheteria são de super-heróis, aventuras com muito uso de computação gráfica ou remakes de obras da Disney, acreditar nesse primeiro cenário descrito parece pouco provável. 

Oppenheimer, ainda que muito ancorado no contraponto de Barbie enquanto marketing, no entanto, conseguiu romper essa barreira. No momento em que este artigo vai ao ar, já são quase meio bilhão de dólares em bilheteria ao redor do mundo - tudo isso para, volto a reforçar, um filme de três horas que foge do “padrão sucesso de público” dos últimos anos.

Mas, afinal, seriam esses os pontos que fazem com que Oppenheimer seja um bom filme? Não. Na verdade, o longa do diretor britânico Christopher Nolan, um dos mais renomados entre o grande público na atualidade (ainda que extremamente questionado por outros), está longe de ser revolucionário para o cinema. Mesmo assim, consegue misturar elementos consagrados em grandes obras do passado e que, há tempos, não eram apreciados em massa nas telonas - com um quê de originalidade do cineasta. 

Inspirado no livro Prometeu Americano, Oppenheimer discorre sobre a vida de J. Robert Oppenheimer, físico teórico estadunidense conhecido como o criador das bombas atômicas que destruíram Hiroshima e Nagasaki. O longa retrata três momentos da vida do cientista: o seu despertar para a teoria da física e a física experimental, a condução do Projeto Manhattan (que resultou na criação da bomba atômica) e julgamentos após o término da Segunda Guerra Mundial. 

Em resumo, ainda que clichê, Oppenheimer retrata a ascensão e queda moral e profissional do físico que foi o principal responsável pela criação da bomba atômica, a maior arma de destruição em massa já utilizada no planeta. O longa retrata a jornada daquele que, em uma entrevista no século passado, parafraseou uma escritura hinduísta para se descrever da seguinte forma: “eu me tornei a morte, o destruidor de mundos”. 

Em Oppenheimer, Nolan reconhece os seus limites enquanto cineasta, mas é capaz de controlá-los (ou ao menos camuflá-los) justamente ao potencializar suas qualidades. O filme é um retrato político, mas totalmente ancorado na disputa científica que marcou o momento mais terrível já vivido pela humanidade - e o diretor tem plena ciência disso. 

O cineasta britânico retrata Robert J. Oppenheimer como um gênio da física, daqueles que é atormentado pelas próprias ideias a ponto de não conseguir dormir pensando em moléculas, átomos e afins. E é justamente na forma em que retrata esse conflito interno, o qual se estende ao longo de todo o filme, que Nolan consegue contornar um de seus principais pontos fracos.

O diretor nunca foi muito bom em construir dramas verdadeiramente convincentes em suas obras. E, ao contar a história de Oppenheimer, ele tinha em mãos uma tarefa muito difícil: mostrar o dilema moral do “pai da bomba atômica” sem tirar dele a responsabilidade de sua criação - ou, em outras palavras, sem “passar pano” para a história norte-americana.

Nolan consegue construir esse drama a partir de representações visuais, na maioria das vezes abstratas, que atormentam a mente do personagem principal. Sabendo que os diálogos talvez não seriam suficientes para nos convencer do conflito interno vivido por Oppenheimer, o cineasta recorre a imagens de explosões, agitação de moléculas e visões turvas e claustrofóbicas para ajudar a cumprir esse papel. Som e imagem, inclusive, sempre foram pontos fortes do diretor. 

O longa também é marcado por uma sensação de urgência que dita o ritmo desde o primeiro minuto. Inicialmente, com o despertar do interesse de Oppenheimer por áreas específicas da física. Depois, pela corrida pela criação da bomba atômica, antes da Alemanha Nazista. 

Até o momento do teste definitivo da bomba atômica, somos incubidos por um sentimento de urgência que é transmitido em tela pelos diálogos (verborrágicos, constantes e sobre temas complexos), pelo cenário político da Segunda Guerra Mundial e pelo conflito interno de Oppenheimer. Tudo isso com uma edição excelente, que conecta três linhas do tempo diferentes, e uma trilha sonora impecável para com o filme.

 

Nolan consegue fazer com que discussões sobre a física, um tema extremamente complexo, por vezes monótono para leigos e muito abstrato, seja interessante a ponto de te deixar na ponta da cadeira do cinema, prestando atenção em cada linha de diálogo.

Além disso, o diretor faz questão de não ignorar as discussões políticas que, obviamente, permearam a construção da bomba atômica. A relação de Oppenheimer com o comunismo é explorada, ainda que em alguns momentos de forma um pouco superficial, durante todo o longa. O cineasta também não fecha os olhos para a perversidade dos Estados Unidos durante esse período, com diálogos pontuais que deixam claro que a disputa norte-americana na Segunda Guerra Mundial tinha muito mais a ver com o status de poder do que necessariamente com a missão de frear os nazistas. 

Qual foi a minha surpresa, então, quando um filme tão frenético em termos de diálogos, sons e contexto, tem o seu apogeu justamente em uma cena de pleno silêncio. Não falarei aqui qual é, mas posso afirmar que foi uma das coisas mais interessantes e impactantes que eu já vi em uma sala de cinema. 

Oppenheimer não é um filme perfeito. Nolan segue sem ser capaz de dirigir personagens mulheres sem que estas sejam apenas apoios para a construção dos protagonistas e coadjuvantes homens. Apesar de Emily Blunt e Florence Pugh estarem muito bem em termos de atuação, no fim das contas elas acabam caindo no famoso retrato machista da mulher histérica. A cena de sexo existente no filme, inclusive, soa quase como uma ofensa, de tão desnecessária para a história, para o personagem, e para o longa como um todo. 

A missão mais difícil, no entanto, era a de retratar Oppenheimer sem que ele fosse resumido a uma vítima da Guerra, um “cientista genial cuja criação foi desvirtuada e utilizada por pessoas ruins”. No longa, o diretor conseguiu capturar a dualidade da figura histórica no sentido de deixar claro que sua criação, desde o início, foi fundamentada para a destruição, e que por mais que não tivesse sido o seu objetivo jogar uma bomba atômica no Japão, ele conduziu a construção e participou da discussão de onde depositar a arma. Sendo assim, terá que conviver com o genocídio causado por aquilo que ajudou a criar.

Cillian Murphy está muito bem no papel de Oppenheimer, o qual deve lhe render indicações nas principais premiações do cinema. O ator, além de ser realmente parecido com o físico estadunidense, consegue expor em tela muito bem o dilema por fim vivido pelo personagem, em momentos onde, confrontado com a sua própria criação, se vê imerso quase que em um filme de terror. 

Além disso, quando digo que Nolan reconhecesse os seus limites, não me refiro apenas à forma com que ele contorna sua deficiência na construção de dramas. O diretor também toma uma decisão ética que, na minha opinião, foi extremamente assertiva: a de não mostrar visualmente a destruição de Hiroshima e Nagasaki. 

Colocar o retrato de um dos momentos mais horríveis da história da humanidade, de um crime cometido contra orientais, na mão de um cineasta ocidental, pode facilmente descambar para uma situação de desrespeito. Isso não significa que o diretor fecha os olhos para esse fato - pelo contrário. Em uma cena específica, inclusive, ele faz questão de retratar o terror desse feito a partir da mente de Oppenheimer. 

Siga-me nas redes sociais:

 

Paulo Monteiro

Barbie é o melhor filme que a personagem poderia ter nos cinemas

24/07/2023 17h40 | Por: Paulo Monteiro

Quando saíram as primeiras notícias de que a Warner estava trabalhando em um filme live-action de Barbie, a primeira coisa que eu me perguntei foi: como? Como adaptar um produto para o cinema, nesse caso um dos brinquedos mais influentes da história, sem ser extremamente infantil ou extremamente vazio e desinteressante? 

Posteriormente, a notícia de que Greta Gerwig (diretora de Lady Bird e Little Women) dirigiria o longa trouxe um indício do rumo que a adaptação poderia tomar. Os trailers imagens oficiais do filme, por fim, acabaram esclarecendo a qualidade visual e o tom da obra. 

Ainda assim, mesmo com todas essas informações, para mim era praticamente inconcebível uma adaptação de Barbie para os cinemas que não fosse boba demais ou uma pura propaganda para venda de bonecas. Essa ideia continuou comigo até o momento em que assisti o longa, mas, por fim, posso dizer: Barbie é o melhor filme que a personagem poderia ter nos cinemas.

Greta e Noah Baumbach, esposo da cineasta, diretor de sucesso e co-roteirista de Barbie, tinham um trabalho muito difícil em mãos quando aceitaram trabalhar no longa-metragem: traduzir toda a magia e plasticidade de um brinquedo para as telonas e construir um roteiro que fizesse proveito disso sem cair na mediocridade. Medíocre, certamente, é algo que esse filme não é. 

Barbie é uma adaptação moderna que transita muito bem entre o plástico, o fantástico e a realidade. O real, nesse caso, está muito mais presente nos temas abordados do que necessariamente no que visualmente é apresentado em tela, uma vez que tanto o mundo real quanto o fictício possuem toques de uma casa de boneca. 

A história do filme é simples, no melhor estilo Encantada e outras tantas adaptações onde o personagem de fantasia é confrontado com o mundo real. Falando assim, então, era possível que Barbie acabasse sendo apenas mais um longa nesse estilo. Mas Greta conseguiu imprimir sua digital na obra de forma que ela se transforma em um espaço fantástico para a discussão de temas atuais e relevantes da sociedade - e que curiosamente dialogam com o mundo e a influência das bonecas.

Desde os primeiros minutos de filme, Barbie faz questão de te deixar imerso no mundo de fantasia da boneca, onde tudo é propositalmente muito artificial, mas extremamente. A ingenuidade e simplicidade dos personagens da Barbielândia deixam escrachada a escolha pela fantasia, e isso acaba funcionando muito bem para o humor do longa. 

Apenas quando Barbie e Ken vão para o mundo real, com o objetivo de reparar “problemas” que a boneca estava vivenciando em seu paraíso de brinquedo, é que o filme se abre completamente para a discussão de assuntos atuais e extremamente relevantes. 

Barbie é um filme que preza pelo humor e foge do drama excessivo, mas ainda assim consegue fazer com que você se apegue aos dilemas da personagem. Greta utiliza da boneca que dá nome ao longa e tudo que ela representou para a sociedade para criticar a indústria dos brinquedos e a maneira como a Mattel fez com que meninas vissem em suas bonecas o padrão ideal para seus corpos e aparências. 

Além disso, a diretora faz do contraste entre a “perfeição da Barbielândia” e o mundo real para discutir o lugar da mulher em nossa sociedade, o desenvolvimento do machismo na mesma, e o papel/importância do feminismo. Tudo isso através de um estilo que poderia dar muito errado, mas que acabou casando perfeitamente com a estética e o tom do longa, que é o humor escrachado. 

O humor de Barbie passa longe do sútil, mas na boca de atores e atrizes como Margot Robbie e Ryan Gosling, se transforma em algo extremamente engraçado. As críticas em forma de piadas me remetem ao que Adam McKay tentou fazer em Não Olhe Para Cima. Mas, ao contrário do que acontece no filme estrelado por DiCaprio, no longa de Greta Gerwig isso funciona muito bem. 

O destaque do filme também está na estética alcançada por meio de uma direção de arte impecável. É muito rosa, muito plástico, muito fantástico, mas de maneira em que o excesso não causa incômodo, mas sim conforto. Nas palavras de minha colega de profissão Júlia Felício, enquanto assistimos o filme, parecia que, de fato, estávamos “brincando de boneca”. 

Ryan Gosling está em um dos melhores papéis de sua carreira. Ele, que já havia provado que sabe fazer humor com Dois Caras Legais, incorpora a “inocência” de um personagem de boneco para proporcionar algumas das cenas mais engraçadas do longa. Michael Cera, que interpreta um boneco descontinuado pela Mattel, consegue mais uma vez ser engraçado fazendo praticamente o mesmo papel de sempre.

Margot Robbie, por fim, é tudo o que poderíamos esperar dela. Engraçada e encantadora, mas capaz de nos convencer nas poucas cenas em que de fato estamos vivenciando um drama na história do filme. Com um olhar, um sorriso e uma lágrima para uma idosa sentada em um banco em uma cena em específico, a atriz conseguiu transmitir de uma só vez o sentimento de quem se enxerga como mulher no mundo real. 

O acerto de Barbie é assumir em definitivo o plástico e o fantástico, deixar o humor guiar as principais discussões do longa, e mergulhar no drama em pouquíssimos momentos, de forma a elevar o significado e importância dessas cenas. Um filme engraçado e que promete ser a introdução de jovens e crianças em temas importantes da nossa sociedade. 

Nota: 4/5 

Acompanhe-me nas redes sociais, @paulomonteiroc no Twitter e Instagram e no Letterboxd, como Paulo Monteiro.

 

Paulo Monteiro

Napoleão, Wonka e Biografia de Bob Marley: uma semana cheia de trailers

13/07/2023 20h27 | Por: Paulo Monteiro

Que semana para o cinema ! Em meio a iminente greve dos atores de Hollywood, que se juntam aos roteiristas na paralisação em prol de melhores condições de remuneração e debates sobre outros temas como o uso de inteligência artificial, uma série de trailers de filmes que há muito vinham sendo aguardados finalmente foram divulgados. 

A começar por Napoleão, longa dirigido por Ridley Scott (diretor de O Gladiador, Alien o Oitavo Passageiro e Blade Runner) que teve seu primeiro trailer divulgado no dia 10 de julho. O filme, cujas primeiras notícias de produção saíram lá por 2020, contava com apenas algumas imagens de divulgação até então. 

Com Joaquin Phoenix (Coringa, O Gladiador e Ela) no papel de Napoleão Bonaparte, o filme contará a história das origens do militar francês, abordando sua rápida e implacável ascensão ao império por uma visão pessoal que contrasta, também, com o complexo relacionamento do estadista com sua esposa e verdadeiro amor, Josephine - interpretada por Vanessa Kirby (The Crown e Pieces of a Woman).

Original da AppleTV+, o longa parece ser um respiro às grandiosas obras de época que temos cada vez menos em Hollywood. Parece carregar toda aquela grandeza vista no passado, por exemplo, em filmes como Cleópatra e Ben Hur. 

O filme chega aos cinemas em 22 de novembro e posteriormente no streaming da maçã. Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=ry7L4F6JJZg

 

Paulo Monteiro

Por que a saga Pânico é tão divertida?

06/07/2023 10h32 | Por: Paulo Monteiro

Um telefone toca. Uma jovem que está sozinha em casa atende. Um estranho faz um monólogo ameaçador e, depois de alguns minutos, a primeira personagem (ou pelo menos uma das primeiras) vista em tela morre. Foi replicando esta exata cena em quase todos os filmes até então que a saga Pânico conseguiu criar uma identidade visual tão forte que você só precisa assistir a alguns poucos segundos do longa para saber de qual universo ele pertence. E o mais interessante de tudo isso talvez seja o fato de que esta cena é, em seu cerne, uma brincadeira com os filmes de terror. 

Já são seis filmes, uma série e quase três décadas de Pânico. A saga de terror criada por Wes Craven lá em meados da década de 1990 vem sobrevivendo, ainda que aos trancos e barrancos, e se renovando de tempos em tempos. Mas tem uma coisa em específico que continua me capturando em todas essas obras: a construção da diversão.

Afinal de contas, por que Pânico, uma saga de filmes de terror, é tão divertida? Para mim, a resposta, em resumo, é: porque esse sempre foi o objetivo das obras. 

Pânico nasce depois que os filmes de slasher, em que um assassino com características peculiares e marcantes persegue e mata um grupo de pessoas, já estava batido e desgastado em Hollywood. Longas como Sexta-Feira 13, Halloween e até mesmo A Hora do Pesadelo (criado pelo próprio Wes Craven) chegaram na década de 90 com já pelo menos cinco títulos, todos com praticamente a mesma estrutura.

Restou ao Wes Craven, que já havia contribuído para a popularização do slasher, dar uma nova perspectiva aos filmes do gênero, usando tudo o que se sabe sobre tal para alimentar o assassino e os seus próprios personagens. Ou seja, um filme que referencia e até mesmo “satiriza” o então batido subgênero do terror - mas ao mesmo tempo que cria a sua própria história e dá outras camadas de discussão. 

Craven sempre deixou claro em suas primeiras entrevistas sobre o Pânico de 1996 que o filme é sobre um grupo de adolescentes que cresceu e foi influenciado por filmes de slasher, e que é essa influência que acaba guiando a trama. Por parte do assassino, para tecer as características das mortes. Por parte dos sobreviventes, para tentar prever os próximos passos do assassino com base nos filmes que eles mesmos assistiram. 

E é justamente aí que está a diversão. Ao mesmo tempo em que a gente vê essa constante referência aos filmes de slasher, nós, bem como os próprios personagens, somos instigados a tentar identificar quem é o assassino e quais serão as próximas vítimas com base na nossa bagagem do gênero. Para nós, o filme, então, também se torna um jogo, no melhor estilo “whodunit” de Agatha Christie e afins.

E essa é uma das diferenças mais essenciais da saga Pânico enquanto filme de slasher. O assassino sempre muda, ao contrário de A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 e outros do gênero, em que você não precisa saber quem é a figura (já que ela é sempre a mesma). Além disso, o assassino sempre é apresentado nos primeiros 30 minutos do filme, bem como alguns dos whodunits, o que faz com que fiquemos, ainda que involuntariamente, o tempo inteiro caçando as pistas que podem nos levar até o responsável pelas mortes - e isso é extremamente divertido.

A diversão da saga Pânico também está na liberdade que o filme se permite ter. Por já ter nascido referenciando os filmes de slasher, o longa está sempre “brincando” com as típicas situações desse subgênero que, para os telespectadores, já são vistas como absurdas - como, por exemplo, descer em um porão sozinho ou perguntar “quem está aí” após barulhos extremamente suspeitos.

Clichês do slasher foram transformados em alívios cômicos pela primeira vez em Pânico e perpetuados nos filmes seguintes da saga, com algumas adições - como a criatividade das mortes e por aí vai. 

Mas vale ressaltar que a diversão não é a única coisa que sustenta a saga. A repetição da estrutura dos filmes, que pode até mesmo soar batida hoje em dia, ganha outras camadas que dialogam melhor com o contexto do mundo no ano de lançamento das obras, fazendo com que sempre (ou pelo menos quase sempre) haja algo “novo” no que é apresentado.

São discussões como a da cobertura sensacionalista da imprensa em cima de massacres (como no Pânico 2), a exploração absurda de Hollywood em cima de tragédias reais (como no Pânico 3) e até mesmo a influência na internet na transmissão desses assassinatos (como em Pânico 4). 

Como o próprio Craven disse no lançamento do primeiro filme da saga, toda essa referência aos filmes de slasher é o que está na “primeira camada” do longa (a mais divertida, obviamente), e que abaixo disso há um estudo sobre a “percepção de crianças e adolescentes sobre o que é violência e como você lida com isso ao ser fã de algo tão violento”.

Paulo Monteiro

O Mês do Orgulho LGBTQIA+ nos filmes e novidades nos streamings

29/06/2023 18h34 | Por: Paulo Monteiro

Estamos nos aproximando das últimas horas de junho, mês que, além das festas juninas e das provas de fim de semestre nas universidades e escolas, é reconhecido também por ser o Mês do Orgulho LGBTQIA+. E quando falamos dessa temática, também temos (ou pelo menos podemos) falar de cinema.

O cinema demorou décadas para fazer retratos minimamente respeitosos da comunidade LGBTQIA+. Foram obras e mais obras retratando personagens gays de maneira estereotipada e extremamente rasa, perdendo a oportunidade de não apenas representar um grande grupo de pessoas (e assim conquistar ainda mais público) como também de construir filmes bons, bonitos e reais a partir dessa temática (ou com ela inserida).

Felizmente, rompemos essa barreira nos cinemas. Temos diversos cineastas LGBTQIA+ já consagrados e premiados nesse cenário, bem como diversas obras com protagonistas que representam essa comunidade com a complexidade que se merece. 

Pensando nisso, hoje lhes trago algumas dicas de filmes com temáticas LGBTQIA+:

1 - Dor e Glória, de Pedro Almodóvar (disponível para aluguel na AppleTV, Google Play e Claro Video)
Salvador Mallo é um melancólico cineasta em declínio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida quando seu passado retorna. Entre lembranças e reencontros, reflete sobre sua infância na década de 1960, seu processo de imigração para a Espanha, seu primeiro amor maduro e sua relação com a escrita e com o cinema.

2 - Retrato de Uma Jovem em Chamas, de Céline Sciamma (disponível na GloboPlay e Telecine Play)
França, 1770. A pintora Marianne é incumbida de retratar Héloïse, jovem que acabara que deixar o convento. Héloïse está relutante sobre seu noivado, e Marianne deve pintá-la sem o seu conhecimento. Ela a observa diariamente, para que a pinte em segredo.

3 - Moonlight: Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins (disponível na Prime Video e HBO Max)
Black trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.

4 - Me Chame Pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino (disponível na Paramount+)
O sensível Elio é o único filho de uma família norte-americana com ascendência italiana e francesa. O garoto está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela paisagem italiana. Nesse cenário, Oliver, acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai, chega para despertar sentimentos ainda desconhecidos.

5 - O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee (disponível na Lionsgate, Globoplay e Starz)
Jack Twist e Ennis Del Mar são dois jovens que se conhecem no verão de 1963, após serem contratados para cuidar das ovelhas de Joe Aguirre em Brokeback Mountain. Jack deseja ser cowboy e está trabalhando no local pelo segundo ano seguido, enquanto que Ennis pretende se casar com Alma tão logo termine a temporada. Vivendo isolados por semanas, se tornam cada vez mais amigos e iniciam um relacionamento amoroso. Ao término do trabalho, cada um segue sua vida, mas o período que passaram juntos irá marcar suas vidas para sempre.

São muito mais do que cinco bons filmes com a temática LGBTQIA+. Somente do premiado cineasta espanhol Pedro Almodóvar, abertamente gay, temos algumas tantas obras com personagens da comunidade extremamente bem construídos. 

E a lista também passa por Happy Together, de Wong Kar Wai; Carol, de Todd Haynes; Priscilla, a Rainha do Deserto, de Stephan Elliot; Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro e por aí vai. 

Tem coisa nova nos streamings
A HBO Max trouxe dois excelentes filmes para o seu catálogo recentemente (dois lançamentos, inclusive). O primeiro é o ótimo A Morte do Demônio: Ascensão, longa que retoma as rédeas do universo criado por Sam Raimi de maneira original, extremamente envolvente e, ainda assim, respeitosa com o material original. 

O segundo, trata-se de Desaparecida, longa que conta com boa parte da equipe responsável por Buscando e que traz mais uma vez um suspense contado por meio de telas, do celular, das câmeras de segurança ou de uma webcam. 

E para não deixar a Prime Video de foram, a plataforma também acabou de adicionar em seu catálogo O Pacto, filme dirigido por Guy Ritchie (Snatch, Magnatas do Crime e etc…) e estrelado por Jake Gyllenhaal (O Abutre, Os Suspeitos e etc…).
 

Paulo Monteiro

125 anos de cinema brasileiro e novos trailers para você ficar de olho

22/06/2023 19h26 | Por: Paulo Monteiro

Ah, o cinema nacional. Todo brasileiro que é apaixonado por filmes certamente já teve aquela fase em que, por puro desconhecimento e ignorância, alimentava um verdadeiro desdém por obras nacionais. Quanto mais a gente as assiste e conhece, no entanto, mais passa a admirar. 

Para ser sincero, é simplesmente impossível não se apaixonar pelo cinema brasileiro. 

O cinema do Brasil completou 125 anos nesta semana. Eu, particularmente, ainda tenho muito o que assistir nesse cenário. Nunca visitei os clássicos de Glauber Rocha (como Deus e o Diabo na Terra do Sol) e Eduardo Coutinho (como Cabra Marcado para Morrer), e ainda devo muito aos modernos, como Aquarius (de Kléber Mendonça Filho) e A Vida Invisível (de Karim Aïnouz).

Mesmo assim, há alguns sentimentos que, geralmente, apenas o cinema nacional consegue transmitir. Pertencimento e compreensão (se é que este segundo é, de fato, um sentimento), são os principais deles. É muito fácil se identificar com filmes brasileiros, seja pela realidade dos personagens retratados ou, até mesmo, por aqueles cenários com o copo americano na mesa e a toalha de louça bordada na beira do fogão. 

E em homenagem aos 125 anos do cinema nacional, decidi trazer na minha primeira coluna no SC Todo Dia uma lista breve de alguns dos melhores filmes brasileiros que eu já assisti (sabendo, obviamente, que ainda há muito o que se ver): 

1 - Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman (disponível na Globoplay)
Em São Paulo, em 1980, o jovem operário Tião e sua namorada Maria decidem se casar ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio, um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar.

2 - Central do Brasil, de Walter Salles (disponível na Globoplay)
Dora trabalha escrevendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. A escrivã ajuda um menino, após sua mãe ser atropelada, a tentar encontrar o pai que nunca conheceu, no interior do Nordeste.

3 - Estômago, de Marcos Jorge (disponível na Netflix e Globoplay)
Na vida há os que devoram e os que são devorados. Raimundo Nonato descobriu um caminho à parte: ele cozinha. E é nas cozinhas de um boteco, de um restaurante italiano e de uma prisão que vive sua intrigante história. Ele aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte. E eles sabem, mais do que ninguém, qual é a melhor.

4 - O Que É Isso, Companheiro?, de Marcos Jorge (disponível na Globoplay)
O jornalista Fernando e seu amigo César abraçaram a luta armada contra a ditadura militar no final da década de 1960. Os dois se alistam num grupo guerrilheiro de esquerda. Em uma das ações, César é ferido e capturado pelos militares. Fernando então planeja o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, para negociar a liberdade do colega e de outros companheiros presos.

5 - Sertânia, de Geraldo Sarno (disponível para comprar e alugar na AppleTV e na Google Play)
Quando o bando de Jesuíno invade a cidade de Sertânia, Antão é ferido, preso e morto. O filme projeta a mente febril e delirante de Antão, que rememora os acontecimentos.

Algumas menções honrosas para os ainda mais conhecidos Tropa de Elite 1 e 2, Cidade de Deus e Bacurau, assim como para os não tão lembrados Deserto Particular e O Palhaço.

Uma dica para quem quer assistir um filme, mas não sabe onde está disponível
É só procurar o nome do filme no JustWatch. A plataforma mostra se o filme que você procura está disponível em streaming ou para compra / aluguel digital no seu país.

Filmes cujos trailers saíram nessa semana e você precisa ficar de olho
Essa semana foi um prato cheio para quem estava à espera das “primeiras imagens” de filmes interessantes. Três trailers em específico, lançados recentemente, me chamaram a atenção e quero compartilhar com vocês.

A começar por Priscilla, drama dirigido pela excelente Sofia Coppola (um dos poucos casos de nepo babies de sucesso de Hollywood) e que irá contar a história de Priscilla Presley, a mulher do Rei do Rock, Elvis Presley. 

A biografia, na minha opinião, está em excelentes mãos! Sofia (de Encontros e Desencontros e As Virgens Suicidas) me parece ser a diretora perfeita para retratar pequenas histórias de grandes figuras e, ainda assim, deixá-las extremamente particulares.

Ansioso, confere o trailer:

Outro trailer que me chamou muita atenção, talvez mais pelo diretor do que pelo conteúdo em si, foi Rivais, de Luca Guadagnino. O cineasta italiano que dirigiu o conceituado Me Chame Pelo Seu Nome traz agora Zendaya como a principal personagem de seu novo drama, que aborda amores, amantes e tênis (sim, o esporte). Confira o trailer:

E pra finalizar, um filme que está prestes a lançar e que só fui ficar sabendo no momento em que escrevia esta coluna. Afire, do cineasta alemão Christian Petzold, que venceu o Urso de Ouro em Berlim no início do ano. Sinceramente? Tudo que esse diretor fizer, eu faço questão de ver. Poucos conseguem fazer dramas e romances tão interessantes, com personagens complexos e temas relevantes e históricos de pano de fundo.

Dá uma olhada no trailer:

 

Siga-me nas redes sociais:

 

Paulo Monteiro

Cinema em Cena

Paulo Monteiro é repórter da Rádio Cidade em Dia, de Criciúma, jornalista profissional e um apaixonado pelo mundo do cinema e cultura pop. Com passagens por veículos de imprensa de Criciúma, já escreveu sobre a sétima arte também para o Cinetoscópio e CineVitor.

Opiniões do colunista não representam necessariamente o portal SCTODODIA.com.br

SCTODODIA - Ligados em tudo Grupo Catarinense de Rádios
Alfredo Del Priori, 430 Centro | Criciúma - SC | CEP: 88801630
(48) 3045-5144
SCTODODIA - Ligados em tudo © Todos os direitos reservados.
Demand Tecnologia

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.